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A menina e o canalha

          

                       Certo dia, em um conjunto habitacional de classe baixa
localizado na periferia de Santo André, município da região
metropolitana da Capital Paulista, o caminho de duas pessoas se
cruzam. Ele, um rapaz maior de idade, balconista de lanchonete,
jogador de futebol de várzea, muito bom de conversa; ela, uma
criança de 12 anos, cujas bonecas ainda permaneciam à vista,
sonhadora como todas meninas na pré-adolescência.    
Lindemberg Fernandes Alves, como todo rapaz de sua idade (19
anos), aprecia moças bonitas; Eloá Cristina Pimentel estava
desabrochando e já era uma menina muito bonita, com o corpo se
desenvolvendo e anunciando uma linda mulher.       O convívio e
a aproximação do dia-a dia, encontrando-se nas alamedas,
corredores  e escadas dos prédios onde moravam e galanteios e
propostas do rapaz anteciparam no coraçao da menina o desejo de
namoro. Há 30, 35 anos atrás isso jamais ocorreria. Certamente
provocaria uma conversa séria entre as duas famílias. A do
rapaz o chamaria a atenção pela irresponsabilidade e a da
menina lhe daria um puxão de orelha, passaria a vigiá-la
melhor, com o irmão mais velho levando-a para a escola.     
Mas eram tempos modernos, as famílias eram modernas. Tinham
mais com que se preocupar, como a prestação da CDHU, por
exemplo. E o namoro se concretizou. Para a menina, certamente,
era o primeiro 'amor', para ele um sentimento de posse, e assim
aquele romance fora dos padrões, teve idas e vindas, juras e
promessas, brigas e ciúmes. E aquele 'amor' se prolongou por
três anos.       Lindemberg completava 22 anos, conhecera
outras moças bonitas, como tantas que existem numa Comunidade
densamente povoada. Inevitáveis novos interesses e novas
pretendentes; Eloá, debutava para os 15 anos, tornara-se uma
morena lindíssima, inevitáveis novos sonhos, novos
pretendentes, muito deles surgindo na página da Internet, no
Orkut que havia aberto há algum tempo, com o nome de 'Helloá'.
     Tudo isso, somado ao já manifestado mal-caráter do rapaz,
que se sentia 'dono' da menina e chegava a agredi-la, provocou
mais um desentendimento. E há três meses Eloá considerou o
rompimento definitivo e resolveu dar novos rumos a sua vida.
Lindemberg não se conformou. Afinal, aquele era um 'brinquedo'
que possuia há muito tempo e do qual não queria abrir mão.    
E no dia 13 de outubro, primavera chuvosa de 2008, Lindemberg
arrumou, não se sabe onde, um revóver calibre 32, encheu os
bolsos de munição, e seguiu raivoso como se fosse ajustar
contas com seu pior inimigo. No apartamento de Eloá, outros
três amigos da mesma idade a acompanhavam em trabalhos
escolares, navegavam na Internet, entravam no Orkut...     
Eram 13h30 quando a porta foi aberta para o ex-namorado.
Naquele momento, a garota, que desde criança conhecia aquele
rapaz, o viu transformado em cão raivoso. Disposto a matar, o
rapaz passou a ameaçar e a agredir. A polícia chegou. Ele
reagiu a bala. Negociou, prometeu, não cumpriu, libertou dois
garotos, libertou a melhor amiga de Eloá, Naiara Fernandes
Silva, a chamou de volta, ela voltou, entrou no cativeiro na
presença de centenas de policiais, como se estivesse visitando
amigos...       A imprensa chegou. Jornalistas sérios e
'jornalistas' sem escrúpulos. Nos estúdios das redes de TV,
âncoras sensacionalistas e sem ética brigavam pela audiência,
falaram por telefone com o bandido, interroperam contato com a
polícia, atrapalharam as tentativas de libertação das moças...
aquela região de Santo André parou, o Brasil e o mundo voltaram
a atenção para São Paulo.       Na sexta-feira, 17/10, por
volta das 18 hs., uma bomba explodiu, uma porta foi derrubada,
quatro tiros foram disparados, dois corpos foram levados ao
hospital, um homen com cara de fera foi levado à cadeia. No dia
seguinte, por volta de 23h30, Eloá Cristina Pimentel morreu,
vítima de dois tiros disparados à queima-roupa. Se corpo foi
sepultado na terça-feira, 21/10, às 9h25, com a presença de
milhares de pessoas. Naiara, a melhor amiga, se recuperava no
hospital de um tiro na boca. A mãe, Ana Cristina, falava em
perdão. O coração de Eloá já batia em outro peito.      Eloá
nunca mais verá seus colegas e professores, a quem jamais
entregará o trabalho escolar, não ouvirá mais suas músicas
preferidas, não entrará mais no Orkut, nunca mais ficará on
line no msn, não verá Naiara.       A vida e os sonhos de Eloá
foram interrompidos a partir de uma tarde de primavera. Este
triste destino começou a ser traçado naquele dia em que a vida
da menina se cruzou com um canalha.                  

Moacyr Custódio

 
 
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