Tudo começou em 1976 Num feito inédito, em apenas três anos consecutivos e através de suas vitórias no campo de jogo, saltou três degraus na hierarquia da F.P.F. - Federação Paulista de Futebol, conquistando um lugar na Divisão de Honra do futebol paulista. Nunca antes, equipe alguma do futebol brasileiro conseguira realizar tal façanha e, segundo os profundos conhecedores do futebol, dificilmente essa suprema glória alcançada pela Sociedade Esportiva Matonense será igualada. Como dizem os historiadores, "algo assim só acontece de mil em mil anos". Texto de Gilberto José da Silva Corria o ano de 1976. Com cerca de 25 mil habitantes, Matão, localizada na região centro-oeste do Estado de São Paulo, já era uma cidade cordial e simpática, dotada de um vigoroso parque industrial com destaque para indústrias de implementos agrícolas, material hidráulico e elétrico, suco concentrado de laranja e confecções. A cidade já era famosa por emprestar seu nome à valsa "Saudade de Matão", de Pedro Perches de Aguiar, um clássico do cancioneiro popular. Colonizada por italianos, Matão nasceu e cresceu sob o amparo de uma religiosidade forte. A beleza e o esplendor dos seus enfeites de rua na procissão de Corpus Christi tornara-se atração turística, visitada por pessoas do Brasil inteiro. Desde sempre o futebol fora a atração maior nas bucólicas tardes de domingo da pequena cidade. Particularmente nesse ano de 1976 um grupo de esportistas matonenses, aqueles abnegados de sempre, vivia um momento de euforia e preocupação. A equipe que representava a cidade no cenário do futebol paulista, a Sociedade Esportiva Bambozzi, patrocinada pela indústria que lhe emprestava o nome, ganhara o campeonato amador do Estado e com isso o direito de ascender a então Segunda Divisão, passando de amador para profissional. Aí começara o problema. Os diretores da indústria, com sua lógica de empresários, ponderaram que o profissionalismo iria exigir muito mais investimento e atenção, desviando trabalho e esforços administrativos para uma atividade que não era o principal objetivo da empresa. Nasce a Matonense Liderados pelo prefeito de então, Celso de Barros Perches, aquele grupo de esportistas matonenses concluiram que não podiam perder a oportunidade de colocar o futebol da cidade na Segunda Divisão. Assim, numa reunião realizada no Sindicato dos Metalúrgicos, decidiram fundar a Sociedade Esportiva Matonense, garantindo a participação de Matão no futebol profissional de São Paulo. Além do prefeito Celso Perches participaram dessa reunião Luiz Antonio Giliolli, Antonio Geraldo Pinotti, Leônidas "Quito" Pereira, Evaristo Mingorance, Oscar Moraes, Euripedes Soares, João Ferreira, Cleber Baldassi, Hugo de Stefani, Olavo Picchi, Álvaro Arroyo e Duvílio Cavichiolli entre outros. A base do time seria a Sociedade Esportiva Bambozzi, o uniforme seria azul e branco, as cores do município e o primeiro presidente foi Horácio Caires. A Sociedade Esportiva Matonense foi fundada no dia 24 de maio de 1976. Aqueles homens nem sequer imaginavam o que a história reservava para o futuro do time. A grande maioria dos jogadores eram da cidade mêsmo. Trabalhavam nas indústrias e treinavam após o serviço. Não existiam salários. Pequenos bichos para os poucos atletas que eram de fora. A prefeitura cedia o Estádio Municipal "Hudson Buck Ferreira", então com capacidade para mil espectadores e o transporte, para os jogos fora. Para as demais despesas como pagamento de taxas à F.P.F., compra e manutenção do material esportivo, a diretoria se virava com pequenas rifas e, na maioria das vezes, colocava dinheiro do seu próprio bolso. Vieram os jogos com cidades como Serra Negra, Itapira, Neves Paulista, Tanabi, Santa Rita do Passa Quatro, Ilha Solteira e Fernandópolis, entre outras. As dificuldades eram muitas. Parecia ser uma luta inglória. Mas aquele punhado de homens não se deixava abater. Eles gostavam de futebol, da aventura que era cada viagem e, principalmente, nada pagava a satisfação de algumas proezas como a derrota imposta ao Fernandópolis Futebol Clube, dentro de seu próprio campo, em 1979, considerado então um dos melhores clubes da Segunda Divisão da F.P.F. Foquetório na madrugada Confiante na vitória, a Diretoria do Fernandópolis tinha preparado sobre seus vestiários, uma grande bateria de fogos de artíficio para comemorar mais um resultado positivo de seu esquadrão imbatível. Afinal o adversário era a humilde "Matonense". Mas seus planos não deram certo e a "Matonense" venceu por 2x1. Eles se preparavam para recolher os fogos, quando os Diretores da "Matonense" resolveram comprá-los. O negócio foi fechado e às primeiras horas daquela segunda-feira a cidade acordou entre surpresa e assustada com o ribombar de rojões no meio da noite. Era a comemoração de uma vitória inesquecível, principalmente para o presidente da época, o hoje Deputado Estadual Jayme Gimenez. Os anos foram passando e a Sociedade Esportiva Matonense sempre permanecendo entre os quatro ou cinco primeiros colocados da chave que disputava. Às vezes jogava contra cidades distantes, como Ilha Solteira, por exemplo. Aliás, a primeira viagem contra essa cidade também acabou se tornando um episódio marcante. Como já foi dito, o transporte dos jogadores era oferecido pela Prefeitura Municipal. O ônibus, com bancos de encosto de madeira e reto, não era dos mais confortáveis. Considerando a distância entre Matão e Ilha Solteira, os jogadores solicitaram um ônibus mais confortável. A diretoria ponderou que eles tinham razão e, pela primeira vez, resolveu fretar um ônibus mais novo, de uma empresa da cidade de Taquaritinga. O motorista da Prefeitura, Waldir Leonardo Falconi, "Jim", que sempre transportara o time e era um torcerdor fanático, não se conformou com a decisão. Por conta própria resolveu fazer uma lotação com torcedores e foi com seu velho ônibus para Ilha Solteira atrás do time. Foi a coisa mais certa que ele fez. Pouco depois de São José do Rio Preto o imponente ônibus contratado fundiu o motor. Os matonenses ficaram desesperados. E agora. O jogo estava marcado para as 15h00. Já tinham perdido a esperança de chegar a tempo quando, como num sonho, avistaram "Jim" Falconi e seu velho ônibus encostando no mesmo Posto em que a delegação estava parada. Eles não acreditavam. Na boléia e cheio de orgulho, "Jim" transportou mais de 60 pessoas aquele dia. E a "Matonense" chegou a tempo para o jogo na Ilha Solteira. De volta à Terceira Divisão As constantes alterações na maneira de disputas e hierarquia dos times nos campeonatos da Federação Paulista de Futebol jogaram a Sociedade Esportiva Matonense para a Terceira Divisão, novamente, no inicio dos anos 80. Foi também nessa época que a Diretoria ganhou um aliado importante na sua luta para motivar a torcida. Além do jornal "A Comarca" que desde a fundação do time dispensou especial cobertura às atividades da equipe, em julho de 1980 a cidade ganhava sua primeira emissora de rádio. Com seu grande poder de comunicação esse veículo iniciava em 1982 as transmissões dos jogos em Matão e fora da cidade. Juntando a cobertura da imprensa escrita e falada a empolgação dos matonenses com seu time começa a crescer e a presença no estádio também. A cada jogo em casa o Estádio já recebia de 300 a 400 torcedores. |